Um deserto de dor

Certa manhã, Deus me ensinou poderosamente essa lição, em um momento de inquietação, pouco do antes do amanhecer. Eu estava debaixo do chuveiro, mais uma vez, às três horas da manhã. A enxaqueca havia durado por várias horas e não mostrava sinais de melhora. O tempo que passei vomitando tinha me deixado exausta e impediu que eu digerisse todos os analgésicos que havia tomado. Em um esforço desesperado para escapar daquela dor latejante e enlouquecedora, arrastei-me até o chuveiro para sentir a água caindo em minha cabeça. Isso não serviu para tirar a dor, mas trouxe alguns momentos de distração e alívio. O problema é que, cada vez que eu saía do chuveiro e voltava para cama, a dor retornava. Essa já era minha terceira ida ao chuveiro, e senti uma tensão crescente em minha cabeça e em meu corpo ao perceber que a dor estava piorando e as náuseas, recomeçando. Estava no meu limite, e, ao voltar para o chuveiro, o mundo desabou em mim.

Uma raiva poderosa contra Deus brotou dentro de mim, e acusações jorravam, enquanto as lágrimas começavam a cair. “Deus, já implorei repetidas vezes que você dê um fim nestas dores de cabeça, NESTA dor de cabeça, mas você não a tirou de mim. Por quê? O que eu tenho que fazer? Por que você não me ouve e por que não se importa?” A grande teologia que aprendi ao longo dos anos apenas alimentou meu desdém. Eu sabia que Deus tinha o poder de realizar toda a sua santa vontade. Ele poderia remover facilmente todas as minhas dores de cabeça, e fui levada a lutar com o fato de que ele não iria fazê-lo, apesar de quanto eu implorasse, suplicasse, ou ameaçasse.

De repente, um pensamento invadiu a minha mente, e eu sabia que não vinha de mim. Se Deus faz todas as coisas para sua própria glória e para o bem dos eleitos, então, de algum modo, essa dor de cabeça deve cumprir esses dois objetivos. Ela tem que glorificar a Deus e, de algum modo misterioso, ser boa para mim. Um pensamento levou ao outro, quando o Espírito Santo invadiu a minha mente, resgatando a minha alma: Se Deus me ama – e sei que Ele me ama, pois provou isso na cruz – então, é o amor que o compele a não fazer a minha vontade neste momento. Por que um Pai amável e celestial planejaria isto para mim hoje?

Eu sabia que esses pensamentos não eram meus, pois eram atípicos e alheios a mim. Meu padrão habitual de respostas às dores de cabeça se resumia a queixas e acusações amargas, mas esses pensamentos eram algo completamente diferente: eram verdades sobre verdades que me levariam a uma forma totalmente nova de pensar. Comecei a orar e confessar minha raiva grosseira a Deus. Essa experiência no deserto de dor constante levou-me a me levantar diante de Deus e a erguer o punho com raiva infantil. Por que ele toleraria um comportamento tão irreverente, orgulhoso e pecaminoso? Eu estava fazendo isso há anos e, ainda assim, sobrevivi! Ele não havia me destruído por causa da minha audácia ou me castigado pelo meu desaforo. Meus olhos foram repentinamente abertos para a enxurrada de pecados que jorrava de meu coração contra Deus pelo fato de ele não fazer a minha vontade ou me deixar fazer as coisas como eu quisesse; então, fui quebrantada. Meu pensamentos mudaram de acusação amarga para contemplação e adoração à medida que eu me maravilhava com a incrível paciência de Deus para comigo. Deus nunca havia me prometido uma vida sem dores, mas eu achava que ele me devia exatamente isso e odiava quando ele não cumpria a minha vontade ou não agia como meu empregado.

Desliguei o chuveiro, e, enquanto a água escoava pelo ralo, algo imenso e escuro começou a sair de minha alma. Deus utilizou o deserto desta enxaqueca e de muitas outras antes dela para abrir meus olhos para algo que eu não enxergava havia muitos anos. Minha postura diante de Deus havia sido a de uma pessoa que se julgava merecedora e cheia de exigências sem fim. Essa informação era nova para mim, mas não era nova para Deus. Ele sempre viu meu coração e sabia o que havia dentro dele, mas esperou amorosamente até esse dia para abrir meus olhos e me mostrar a profundidade de meu pecado. 

Mais uma vez, eu não fora apenas deixada a sentir-me miserável e péssima. A imensidão de meu pecado tinha que revelar algo maravilhoso sobre meu Salvador. Jesus foi crucificado exatamente por esse fardo de iniquidade, e ele me amou ao fazer isso. Ele escolheu sofrer a ira, literalmente, de tirar o fôlego, de seu amado Pai celestial em meu lugar, para que eu não tivesse que morrer pelo meu pecado.

Uma imagem se formou em minha mente ao me visualizar diante da cruz do meu Salvador, agonizando, enquanto eu o afrontava por não ter parado a minha dor de cabeça. As implicações absurdas dessa visualização derreteram meu coração com um doce arrependimento e uma profunda gratidão. Percebi que eu certamente era capaz de atos tão maliciosos, egoístas e imaturos, e, no entanto, nada do que eu pudesse fazer jamais me afastaria do amor de Jesus Cristo. Além disso, Cristo não somente morreu a minha morte, como também viveu de modo perfeito por mim, sofrendo com as doenças e dores de um ser humano, existindo em um corpo limitado, sem murmurar contra Deus ou acusá-lo e sem pecar de qualquer outra forma. Então, ele apagou meu histórico de ressentimento e ira e me deu a sua justiça.

Certa vez, Jesus também pediu algo a Deus, mas a sua vontade não prevaleceu. No jardim do Getsêmani, ele pediu a Deus que afastasse dele o cálice de sua ira, que o removesse. Porém, Deus não respondeu àquela oração (Mateus 26:39), Jesus, no entanto, não reagiu com acusações amargas em ameaçadoras. Em vez disso, ele orou: “Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” e levantou-se para dar início a uma caminhada de dor que eu nunca conhecerei ou poderia suportar. Sem ira ou acusações, ele escolheu sofrer grande agonia, para que a minha ira direcionada constantemente a Deus não me destruísse. Agora, a retidão de Jesus era a minha, embora eu ainda lutasse com pecados como ira e amargura. Que amor maravilhoso Cristo demonstrou por mim ao sofrer voluntariamente! Que amor incrível o Pai demonstrou ao permitir que Jesus sofresse em meu lugar! Que alegre surpresa descobrir como ele continua me sustentando, conduzindo-me através dos desertos que planejou para mim e sofrendo pacientemente a injustiça das minhas reações pecaminosas, a fim de revelar-me o meu coração e ensinar-me sobre o seu amor.

Meninas, as vezes nós nos encontramos lutando contra o próprio Deus. Amarguradas e revoltadas por Ele não responder nossas orações da forma que queremos, por Ele não nos dar aquilo que tanto pedimos no NOSSO tempo, e muita vezes nos esquecemos que Ele já nos deu tudo, através da salvação que temos em Cristo Jesus. Nos apegamos nessa vida terrena, e nos esquecemos que já recebemos incontáveis tesouros espirituais. Histórias como a de Jó, servem para nos mostrar que Deus pode nos dar um amor por Ele, mesmo que Ele nos tire tudo: bens, família, saúde, estabilidade. Que todos os dias, a graça de Jesus e a sua justiça sejam suficientes para brotar em nosso coração um contentamento e gratidão sinceros pelo Filho, e uma confiança de que o Pai nos tem em suas mãos, e sabe o que é melhor para nós.

 

O texto que você leu em itálico foi retirado do livro “Graça Extravagante” de Barbara R. Duguid, um livro que por sinal você não pode passar dessa vida para outra sem ler. Segue o link para quem desejar adquirir: clique aqui para comprar.

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